terça-feira, maio 19, 2009

Do irresponsável alegado "tratamento" da homossexualidade

Ja devem ter ouvido ou lido por aí as opiniões de dois psiquiatras com (teórica) responsabilidade científica e social, enquanto representantes dos demais, a propósito do alegado "tratamento" da homossexualidade. Deixo-vos um texto conciso e directo sobre esta problemática, publicado hoje no Público por Ana Matos Pires:

"Tratamento" da homossexualidade: cronologia dos acontecimentos e mais uns pozinhos


Em Março passado Annie Bartlett, Glenn Smith e Michael King, investigadores do departamento de saúde mental de duas universidades londrinas, publicaram o artigo de
"The response of mental health professionals to clients seeking help to change or raedirect same-sex sexual orientation". De acordo com os autores "we know very little about mental health practitioners' views on treatments to change sexual orientation. Our aim was to survey a representative sample of professional members of the main United Kingdom psychotherapy and psychiatric organisations about their views and practices concerning such treatments." (sublinhados meus).
No Público de 2 de Maio Andreia Sanches assina um trabalho jornalístico intitulado "Tratamentos para alterar orientação sexual não são coisa do passado", assumidamente feito na sequência da publicação do referido artigo, e coloca o mesmo tipo de questão a diferentes psiquiatras e psicólogos nacionais. Recordo que o que estava em causa era saber-se se os técnicos "caso fossem procurados por um cliente que pretendesse "mudar" ou "redireccionar" a sua "orientação homossexual" tentariam fazê-lo". No grupo de inquiridos estavam o Presidente do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos (OM), João Marques Teixeira, e o presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Adriano Vaz Serra, apresentados pela jornalista nessas qualidades.

Dois apontamentos a este propósito. Enquanto psiquiatra fiquei desagradada, digamos assim, com a falta de cuidado técnico posto nas respostas, que entretanto não seriam rectificadas nem corrigidas publicamente por nenhuns dos intervenientes. Impressionou-me, em particular, a confusão entre "orientação sexual" e "identidade de género" e a divisão desactualizada e cientificamente errada entre homossexualidade "primária" e "secundária" presentes nas resposta de Marques Teixeira. Causou-me, também, alguma estranheza que Adriano Vaz Serra tenha apelado ao autor australiano N. McConaghy para sustentar cientificamente o uso de técnicas cognitivo-comportamentais em tais "tratamentos", recordando-me de imediato do seu artigo "Classical, avoidance and backward conditioning treatments of homosexuality" de... 1973. Passaram-se imensas coisas entretanto, incluindo ter-se abandonado, com base em justificações médico-científicas, a integração da homossexualidade nos instrumentos classificativos internacionais das doenças psiquiátricas. E não foi só a Associação Americana de Psiquiatria a rever tal posição nosográfica, é uma realidade mundial, também contemplada pela International Classification of Diseases da Organização Mundial de Saúde, na versão para as doenças psiquiátricas.


Continua aqui: http://jugular.blogs.sapo.pt/885685.html (texto datado de 15 de Maio)

1 comentário:

João Roque disse...

Não haverá também um "tratamento" para os hetero que queiram tornar-se gays?
Abraço.