quarta-feira, setembro 30, 2009

Era uma vez um Presidente da República

Ficará para a história como um lastimável exemplo de como uma explicação necessariamente urgente surgiu tardia e, mesmo quando se esperava o esclarecimento, se conseguiu semear a confusão e tensão num país que merecia mais e melhor.

É surpreendentemente irresponsável, para além de toda a compreensão. Tenho apenas a lamentar o incidente e, já que da cadeira do poder não sairá, ao menos que o país não caia no erro de o re-eleger.

quinta-feira, setembro 10, 2009

And the Nobel Prize in Literature will (probably) go to...

Conseguir prever os Nobel não é tarefa fácil, ainda pior quando a qualidade dos vários "candidatos" é imensa. Com (quase) toda a certeza, em cada ano, apenas um poderá levar o tão desejado Nobel para casa.
Apesar de no ano passado ter havido alguma crítica do comité Nobel a propósito da literatura americana, o facto é que este país tem dos melhores escritores actuais e o último Nobel foi há 16 anos (Toni Morrison, autora de "Beloved"), o que lhes abriria algumas possibilidades.
Algumas estatísticas dos últimos 20 laureados (2008-1989): 75% são do sexo masculino (ratio M:H - 1:3); a média das idades é aproximadamente 68 anos (idade quando o Nobel foi anunciado, sendo o mais novo Orhan Pamuk - 54 anos em 2006 - e a mais velha Doris Lessing - 87 em 2007); o continente europeu domina, com 60%, seguindo-se o asiático e o americano, ambos com 15% e 10% são africanos (foi considerada apenas uma nacionalidade para cada Nobel) e finalmente, os que são predominantemente romancistas correspondem a 75%, os poetas a 15% e dramaturgos a 10%.

Entre os meus autores favoritos:

  • Thomas Pynchon (72 anos, USA) - O autor mais reclusivo de sempre (nunca apareceu em televisão ou aceitou publicamente um prémio), é unanimemente reconhecido pelas incontáveis referências culturais, livros colossais e narrativas e personagens complexas, a destacar "Gravity's Rainbow", "V", "Mason and Dixon", "Vineland", "The Crying of Lot 49" e o seu livro mais recente, "Inherent Vice".

  • Ian McEwan (61 anos, UK) - Um autor complexo, criador de personagens marcantes, dono de um humor negro e imaginação prodigiosa, assina "The Cement Garden", "Atonement", "On Chesil Beach", "Amsterdam" e "The Confort of Strangers". Foi por algumas vezes alvo de acusações de plágio, as quais nega. Inclusivamente, muitos escritores vieram a público defender a sua inocência. Mais recentemente lançou a polémica no Islão, devido às suas críticas sobre a maneira como as mulheres e os homossexuais são tratados, em nome da religião.
  • Ismail Kadare (73 anos, Albânia) - É um exilado político, contador de histórias, por excelência, encontra o equilíbrio entre o autobiográfico e o fantástico. Domina a ironia e a crítica política é sublime. Autor de obras como "The General of the Dead Army", "The Siege", "The Palace of Dreams", "Chronicle in Stone" e "The Concert".
  • Cormac McCarthy (76 anos, USA) - O autor de "No Country for Old Men" conheceu um recente re-descobrimento da sua obra muito à custa do Oscar de Melhor Filme para a popular longa-metragem homónima do livro acima mencionado. É ainda o autor de livros considerados clássicos americanos, como o sangrento western "Blood Meridian: Or, the Evening Redness in the West" e o pós-apocalíptico "The Road".
Algumas apostas mais seguras:

  • Claudio Magris (70 anos, Itália) - Com um currículo académico e jornalístico assinaláveis, é autor de um one-hit wonder, "Danube", de 1986, louvado pela crítica, tem sido repetidamente nomeado para o Nobel desde há alguns anos.

  • Salman Rushdie (62 anos, Índia/UK) - Um dos poucos escritores que se pode gabar de ter tido a cabeça a prémio, aquando da publicação dos "Satanic Verses", é ainda mais aclamado por "Midnight Children" (Book of Bookers) e foi em 2007 condecorado cavaleiro pela rainha de Inglaterra, tendo-lhe sido concedido então o título de Sir.

  • Philip Roth (76 anos, USA) - É provavelmente o autor mais premiado dos seleccionados, é considerado um dos maiores escritores americanos da actualidade e cuja vasta obra tem sido frequentemente adaptada ao cinema. A sua popularidade tem sido atenuada pela crítica, considerando-o algo comercial. Autor de "American Pastoral", "The Human Stain", "The Plot Against America", "Goodbye, Columbus" entre muitos outros.

  • Ali Ahmad Said Asbar, ou Adonis/Adunis (79 anos, Síria) - Destaca-se pela sua originalidade, com uma vasta obra poética (em árabe, infelizmente muito pouco se encontra traduzido), como "Mihyar of Damascus, His Songs" e "If Only the Sea Could Sleep: Love Poems". É sucessivamente, desde 2005, apontado como "candidato" ao Nobel.

  • Peter Carey (66 anos, Austrália) - É um daqueles escritores que com a sua primeira obra ("Bliss") conquistou o mundo literário (por exemplo como "The Lord of the Flies" de William Golding, Nobel 1983), é até agora, um dos dois únicos escritores (em conjunto com J. M. Coetzee, Nobel 2003) a ganhar dois Man Booker Prize ("Oscar and Lucinda" e "True History of the Kelly Gang"), é considerado um dos melhores escritores autralianos vivos.

  • Joyce Carol Oates (71 anos, USA) - A única senhora na minha lista (ainda pensei na canadiana Margaret Atwood..), é também multi-premiada e naturalmente considerada uma das melhores escritoras da actualidade. Escreveu os clássicos "them", "Black Water", "What I Lived For" e "Blonde"
  • Don DeLillo (72 anos, USA) - Um dos autores americanos que mais e melhor escreve sobre a América dos séculos XX e XXI, vencedor de vários prémios, é predominantemente aclamado por "White Noise". Outras obras constam na sua bibliografia, como "Americana", "Underworld" e "Falling Man".

  • Haruki Murakami (60 anos, Japão) - Autor sensação no Japão, cada vez mais apreciado pelo ocidente ao ponto do The Guardian considerá-lo um dos "world's greatest living novelists". Entre as suas obras, destaca-se"Norwegian Wood", "Dance Dance Dance" e "Kafka on the Shore".
  • Mario Vargas Llosa (73 anos, Peru) - O último grande escritor/jornalista da América Latina destinado a receber o Nobel, autor de clássicos contemporâneos de dura crítica social e política e humor sarcástico, como "Conversa na Catedral", "A Casa Verde", "O Paraíso na Outra Esquina". Ao longo dos anos foi passando da esquerda para a direita do espectro político (à moda de Zita Seabra), algo a que ao olhos Nobel (aos olhos de alguém?) não costuma agradar.
  • Edward Albee (81 anos, USA) - É provavelmente quem mais merece o Nobel, tendo em conta a relevância da sua obra para o Teatro mundial (equiparado a Tennesse Williams, por várias razões), vencedor de incontáveis prémios de prestígio (3 Pullitzer, por exemplo), criou obras imortais como "Who's Afraid of Virginia Woolf?", "The Sandbox", "Lady from Dubuque" e "Three Tall Women", entre muitas outras.

Apesar de já serem conhecidas as datas dos restantes prémios Nobel, o da Literatura é tradicionalmente anunciado mais tarde. Garantidamente, até ao final de Outubro, ficaremos a saber quem realmente é o feliz contemplado (e cuja editora verá as suas vendas aumentarem exponencialmente).

--> UPDATE -- A data já se encontra oficialmente marcada: 8 de Outubro. Entretanto, surgiram umas boas dezenas de nomes de possíveis Nobel, nomeadamente, o israelita Amos Oz (70 anos), o italiano Antonio Tabucchi (66 anos) ou o espanhol Luis Goytisolo (74 anos).